Uma família de verdade

No encontro que tivemos para fazer a entrevista na casa da jornalista Mônica Salgado, senti que ela gosta de viver e trabalhar com a verdade, é daquelas pessoas que falam de sua história sem medo de revelar acertos e tropeços.

Afonso, Bernardo e Mônica na casa nova em nosso bairro – foto: Gabriela Rossa Drewes

Ela age com transparência e esta é a palavra que também define o modo de vida da família que Mônica formou há 14 anos com o cantor e produtor musical Afonso Nigro.

Há oito anos, Mônica se tornou mãe, fato que contribuiu para causar uma transformação na vida da jornalista. De workaholic convicta, começou a buscar o equilíbrio entre a carreira de sucesso e a maternidade. A família começava a assumir o papel principal de sua história. “Eu estava doente. O Bê foi uma sementinha que serviu para me mudar. Você vai colocando as coisas em perspectiva e busca uma vida com mais tempo para ser mãe e esposa. A minha ficha começou a cair quando meu filho tinha uns quatro anos. A vida estava em desequilíbrio na época da Glamour, eu era um trator. Era trabalho, trabalho, trabalho, até passava por cima dos colegas sem perceber”, lamenta a jornalista. Mônica tem um relacionamento sólido com o marido Afonso, que arrancava suspiros das fãs nos anos 80 e 90, como líder do grupo juvenil Dominó. Aliás, foi por causa da fama de Nigro que os dois se conheceram, há 21 anos. “Foi no Banana Banana, um tipo de bar e danceteria em São Paulo. Eu tinha 18 anos e fui falar com ele, porque o reconheci do Dominó. Nosso primeiro encontro foi no dia seguinte”, conta Mônica. Afonso complementa: “Eu estava com tanta vontade de encontrá-la que saí da Lapa, fui buscá-la na Zona Norte para comermos um lanche na Avenida Paulista. Praticamente, rodei a cidade inteira para ficar com ela!”

Assim começava a história de amor que se transformou em uma família. Os dois se casaram na igreja da PUC (Imaculado Coração de Maria), onde Mônica estudou Jornalismo. Desde que se conheceram, ficou difícil contar a história de um sem falar do outro, porque a relação de cumplicidade foi costurando uma trajetória inseparável. Eu perguntei a eles se casamento é para sempre e, ao contrário do que se vê como tendência na vida de muitos famosos, eles garantiram que se casaram com o propósito de viver juntos para o resto da vida. “Sem dúvida nenhuma! Casamos com esse intuito e vamos mantendo a promessa de estarmos juntos na alegria e na tristeza. Já passamos por fases ruins, não somos perfeitos, brigamos, falamos bobagem, mas depois conversamos e resolvemos tudo”, diz Mônica. Nigro lamenta a falta de compromisso nos casamentos de hoje. “Eu acho muito louco como as pessoas desistem facilmente de uma relação. Na primeira briguinha, já se separam. Tem gente que, quando a paixão esfria um pouco, já vai buscar outra paixão. Isso é um vício! Quando você começa uma história com paixão e isso vai se transformando, construindo a vida junto, aí tem um filho, uma família… está construindo realmente uma história com alguém. Então não é uma briguinha, um ciúme que vai jogar tudo por terra. Veja só: a Mônica já viveu metade da vida dela comigo”, constata Afonso.

foto: Arquivo Pessoal

A MÃE DO BERNARDO
Hoje, Mônica se define nas redes sociais como mãe do Bê, mulher do Afonso e jornalista.

Quais valores você quer passar para o Bernardo?
Quero que ele tenha empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ele está crescendo nesse universo das redes sociais, com as pessoas se digladiando para defender suas opiniões, e para mim, essa capacidade de entender o outro, de respeitar, vai ser um valor cada vez mais importante no mundo. Por exemplo, quando percebo uma atitude com característica de bullying, converso e explico para o Bê que ele tem que ser sensível com o colega. Se o colega não está bem, fazemos o Bê telefonar. O bom dia, o boa noite, tudo nos detalhes mesmo, procuramos ensinar. É muito difícil, porque você não tem garantia nenhuma de que vai dar certo. Quero também ensiná-lo, com minhas atitudes, que ética é mais importante do que dinheiro; que é legal você deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo.

Você mudaria alguma coisa na formação do seu filho?
Educação não é uma ciência exata. Tenho dúvidas, como todo mundo. Não sei se deveria ter colocado o Bê numa escola bilíngue, porque é importante ter inglês fluente. O fato é que não existe muito certo ou errado nos relacionamentos, as decisões são difíceis: desde a educação escolar até a educação de vida mesmo. Eu e o Afonso sempre conversarmos sobre o tipo de educação que estamos dando ao nosso filho. E isso vai sendo construído ao longo dos anos. Acho que a maternidade é o maior exercício de autoconhecimento que existe!

O que você está aprendendo com o Bernardo?
Além de que eu não tenho controle de nada? (rs). Temos muitas expectativas em relação aos nossos filhos. Na terapia, trabalhamos as expectativas frustradas dos nossos pais e nós também criamos essas expectativas em nossos filhos. O Bê é um indivíduo que tem suas particularidades e nem sempre estamos preparados para aceitar as diferenças. Eu queria muito que o Bê gostasse de ler, mas temos que lidar com as frustrações. Você aprende que não pode estar no controle de tudo. No trabalho é mais fácil, porque as decisões parecem estar mais na sua mão. Quando se trata de seres humanos, um mais um não é igual a dois. O Bernardo me ensinou, por exemplo, que eu achava que era um ser humano muito mais legal do que eu descobri que sou de fato.

foto: Arquivo Pessoal

A MULHER DO AFONSO
Mônica diz que foi muito bom conhecer o Afonso aos 18 anos. “Acho que foi importante para que os laços ficassem quase indestrutíveis. O relacionamento foi se tornando bonito e sério. É bom ver tudo o que passamos juntos desde muito jovens”.

O Afonso é um pai coruja?
O Afonso é um paizaço! Quando o Bê nasceu, eu estava num momento extremamente frenético e produtivo profissionalmente. Ele foi muito compreensivo e apoiador. Não vou dizer que nunca me cobrou mais presença. Cobrou algumas vezes e acho que com razão! Acredito que, se não fosse a segurança de que minha casa e a rotina do Bê estavam organizadas, e o Afonso proporcionou isso, eu não teria conseguido realizar o que realizei na minha carreira. Ele sempre trabalhou mais à noite, fazendo shows e eventos, e o escritório dele é em casa. De dia, ele me ajudava muito! Na verdade, o Afonso ficou com 70% do trabalho de cuidar do Bê. No nosso “combinado” naquele período, ainda que não tenha sido verbalizado, o Afonso agiu mais ou menos assim: “a gente sabe que o Bê está nascendo num momento em que você está florescendo profissionalmente e eu seguro as pontas aqui, porque, agora, eu posso mais do que você”.

O que você mais admira no Afonso?
Ah… é a capacidade de se reinventar. Ele se reinventou muito ao longo da vida, de maneira admirável. Ele começou como cantor e ator; depois, com o fim do Dominó, encontrou novos caminhos na carreira, perseverou e teve sucesso. Quando nos casamos, as coisas começaram a melhorar um pouco, depois decidimos ter o Bê, porque já tínhamos avançado um pouco mais. E tudo foi possível, em grande parte, por causa da capacidade do Afonso de se renovar. E conseguimos chegar onde chegamos porque ele sabe cuidar como ninguém das finanças. Eu brinco, dizendo que ele tem um escorpião no bolso (rs).

Vocês cuidam das finanças juntos?
Somos um casal que divide tudo. Dividimos as decisões, as contas. Nunca foi “meu dinheiro, seu dinheiro; meu carro, sua casa”.

Vocês brigam na frente do Bernardo?
Acontece, né? Não é uma coisa confortável, quando acontece uma explosão, uma resposta atravessada; ficamos mal depois, mas não para por aí, tem sempre uma conversa para explicar. Eu digo: filho, estou nervosa, tive um dia difícil. E acho que criança não é de cristal. Precisa ter muita conversa. Mas, tem dia que você tem que dizer para o filho que o mundo dos adultos é assim, embora não devesse ser. Já disse para o Bê que fico envergonhada de explodir na frente dele. Sempre é bom tirar uma lição das coisas, ser muito transparente.

foto: Arquivo Pessoal

NA CASA DA MÔNICA
Mônica gosta de reunir a família nos fins de semana e ter conversas demoradas com todos. Quando inaugurou a casa nova aqui no bairro, ainda sem todos os móveis e armários, a primeira coisa que ela e o Afonso fizeram foi chamar os familiares para um churrasco. No dia a dia, os dois tentam se ajudar no que podem e falam de suas diferenças com bom humor.

Mônica, como você gosta de organizar a casa?
Eu sou uma pessoa muito obcecada com organização visual e limpeza, e, com o passar dos anos, estou ficando pior! As coisas fora do lugar me dão uma angústia, que eu não sei explicar, parece que o mundo está de ponta cabeça. Tudo precisa estar funcionando dentro da minha casa. Meu escritório precisa estar em ordem, meu quarto com meus perfuminhos todos no lugar. Sou chatinha com isso.

O Afonso ajuda você nesta questão?
Não! Ele só bagunça. A colaboração dele nesse ponto é zero, zero, zero. Ele é tipo o estereótipo masculino, do homem que joga toalha, tênis pela casa… Ele não atualizou essa versão do macho. E agora com o Bê, são dois meninos muito parecidos na bagunça e eles ficam o tempo todo me ironizando, tirando um barato de mim. O Bê, então, é bem irônico, é o jeito que ele tem de se comunicar. Eu acabo rindo. O que me chama atenção no Afonso é que ele é muito organizado na vida profissional, cartesiano mesmo, mas em casa não se incomoda em ver as coisas bagunçadas. É acumulador, não consegue se desfazer do que tem. Ele guarda calça jeans, por exemplo, de 20 anos atrás! Afonso retruca: “eu tenho mesmo isso de jogar as coisas pelos cantos, mas acho que não causo muitos problemas…”(rs)

foto: Arquivo Pessoal

AFONSO, MARIDO DA MÔNICA  E PAI DO BÊ
Além de paizão, o Afonso parece ser um marido bem carinhoso. Durante a entrevista, foi buscar o Bernardo na escola e está organizando todas as pessoas que vão fazer serviços na casa nova.

Você lida bem com os papéis de pai e marido?
Eu sou um cara que não me apavoro. Acredito em Deus e rezo todas as noites. Isso é muito importante para me manter em paz. Acho que eu sou muito mais coruja do que a Mônica e tenho noção de que a tarefa de ser pai não é fácil. Os problemas que nossos pais tiveram são bem menores do que os que a gente tem hoje. Internet, drogas muito mais pesadas…Temos que estar atentos 24 horas. Sei que não vamos ter o controle de tudo, mas temos que acompanhar de perto os filhos. Vamos errar muito! Nossos pais erraram em umas coisas e vamos errar em outras. Não tem jeito! Mas uma coisa que eu e a Mônica fazemos é não deixar passar nada batido. Se ele foi grosseiro com algum amigo, ensinamos a pedir desculpas. Eu quero ensinar o Bê a fazer tudo corretamente, porque o legado que você deixa para o seu filho é o seu nome limpo. As crianças não têm os filtros que nós temos. Uma vez, o Bê não gostou quando fui buscá-lo na escola com o carro da Mônica. E era um New Beetle! Aí, eu expliquei pra ele que meu pai nem tinha carro pra ir me buscar e que, daquele dia em diante, eu ia buscá-lo todo dia com o carro da mãe, para ele não “se achar”.

Você e a Mônica aprendem um com o outro?
Nós nos conhecemos quando ela estava se formando e eu passava por um momento péssimo. Não sabia o que ia ser da minha vida, porque estava saindo da fase de sucesso do Dominó, que tinha terminado, e tentando mudar minha carreira. Então, é a tal história: um acreditou no outro e isso bastou. Nosso relacionamento é muito forte. A Mônica é uma pessoa corajosa, mas acho que ela se encanta muito facilmente com as pessoas e eu tento protegê-la. Eu tenho muita sensibilidade e tento alertá-la quando acho que alguém não é legal. Eu acho que a relação foi construída assim. Temos essa liberdade.

Como você conseguiu passar pelo sucesso precoce sem se envolver em vícios? A família ajudou?
Você disse tudo. Foi a família. Os quatro da banda nunca fumaram cigarro, quanto mais outra droga. E todos viemos de famílias que tinham a preocupação de acompanhar os filhos. Acredito que não dá pra ter 15 anos e ganhar um carro zero, um super apartamento, ter tudo de graça… Aí, quando começam a entrar os malandros na história, se o cara não tiver uma educação legal, se perde muito fácil.

MÔNICA E A ESCOLHA DA PROFISSÃO
A mãe da Mônica é professora de português e teve muita influência na escolha pelo Jornalismo. “Minha mãe influenciou na decisão sobre minha profissão e no viés de jornalismo feminino que eu segui. Ela sempre leu muitas revistas femininas e tínhamos muitos livros em casa. Aprendi com ela o gosto pela leitura! Amo escrever e não vou passar pela vida sem fazer um livro”.

CONHEÇA MELHOR
Mônica trabalhou na Vogue e dirigiu a Glamour desde a primeira edição. Saiu da revista para apresentar um quadro no extinto Vídeo Show, da Globo. Hoje, assina uma coluna na Marie Claire e viaja pelo Brasil fazendo palestras sobre moda e empreendedorismo. É influenciadora digital de destaque e tem 350 mil seguidores no Instagram.

Afonso começou a carreira de ator aos oito anos, quando o pai era técnico eletrônico da Band e o convidou para um teste de novela. Chegando lá, deparou com Regina Duarte, que faria o papel de sua mãe, e Fernanda Montenegro, no papel de sua avó! Desde então, fez oito novelas na Band e na Globo. Numa delas, sem nunca ter aprendido música, cantou um trecho de La Donna è Mobile. Aí, a Sony o convidou para fazer o teste que o levaria ao Dominó. A banda vendeu 4,5 milhões de discos. Hoje, é produtor musical e assina a trilha sonora de vários programas do SBT.

O Bernardo é são-paulino roxo, como o pai, e é incentivado a participar das decisões da família. Ele influenciou na escolha da casa nova e também deu o nome para a Malu, uma das cachorrinhas da família. A outra que aparece na foto chama-se Amelie. E quando foi questionado sobe o que quer ser quando crescer, nao hesitou: quero ser jogador de futebol!

Já está indo embora :´(
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